Uma vitória irracionalmente bela na Copa do Mundo de Basquete

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Nessa sexta-feira (01) a Seleção Brasileira abriu a participação na segunda fase da Copa do Mundo de Basquete, enfrentando o Canadá. As duas seleções já se encontraram 5 vezes em mundiais e todos os jogos foram vencidos pelo Brasil. No entanto, o último encontro em copas foi em 1978. O jogo mais recente disputado entre as duas seleções foi na Americup de 2022, quando o Brasil venceu por 72 a 63, com show de Yago. Mas é justo lembrar que a seleção canadense do ano passado não é nem rascunho do que estamos vendo nessa Copa do Mundo.

O Canadá desse mundial é a seleção com a maior média de pontos por partida (108), o melhor aproveitamento de arremessos de quadra (54,8%) e de arremessos de 3 pontos (42,9%). Outro dado interessante desse grupo é que, dentre as seleções classificadas para a segunda fase, o Canadá é a 7ª que menos cometeu turnovers – muito ao contrário do Brasil, que só não comete mais erros que Porto Rico e Georgia. Inclusive, esse tem sido, até aqui, o principal problema da seleção nessa Copa do Mundo.

Enfim, fora esse monte de dado estatístico bacanérrimo, o Canadá tem jogadores muito talentosos e que jogam na NBA. Alguns deles ainda buscam mostrar seu talento em seus times, mas outros já são a pedra fundamental. Um exemplo é Shai Gilgeous-Alexander, armador do Oklahoma City Thunder, que até aqui tem médias de 22 pontos, 8 rebotes e 5,7 assistências. Além disso, é o segundo jogador mais eficiente dessa Copa do Mundo, somente atrás de Luka Doncic.

Primeiro tempo

A Seleção Brasileira chegou pro jogo com a mesma formação dos últimos jogos. O rumo do primeiro quarto foi similar ao do duelo entre Brasil e Espanha – ótima marcação dos dois times e o Brasil aproveitando muito bem os momentos de ataque. Bruno Caboclo (sempre ele!) foi um baita destaque do primeiro quarto: foram 7 pontos, 3 rebotes e 3 tocos. Além dele, outro nome que teve bons minutos em quadra foi Gui Santos, que se mostro muito agressivo no ataque e muito sólido defensivamente. O Brasil venceu o primeiro quarto por 16 a 13.

Para o segundo quarto voltamos da mesma forma, mas os nossos velhos conhecidos erros começaram a pesar. Começamos a perder muitos rebotes defensivos, nossa bola de 3 parou de cair e uma falta de Bruno Caboclo foi o estopim para o distanciamento do placar. O ala/pivô fez uma falta em Kelly Olynyk, mas o canadense seguiu na jogada e tentou o arremesso. Ao tentar bloquear, Bruno acabou acertando o rosto do jogador. Dupla falta para o brasileiro e, depois dessa, fomos ladeira abaixo. Final do primeiro tempo, 37 a 27 para o Canadá.

Segundo tempo

Voltamos do vestiário com muito mais concentração na defesa. Voltamos a ter um pouco mais de domínio do nosso garrafão, protegendo mais o aro e retomando os rebotes defensivos. Mas de qualquer forma, o que complicava era o nosso ataque. Nossa defesa conseguia segurar o ímpeto ofensivo da seleção canadense, mas cada vez que retomávamos a bola, não conseguiamos ser efetivos no ataque. Para complicar mais, Bruno Caboclo que chegou ao duplo-duplo no terceiro quarto, também chegou em sua quarta falta.

Mas é nesses momentos que heróis improváveis aparecem. Lucas Dias entrou para substituir Caboclo e logo meteu uma bola de 3 pontos no estouro do relógio do terceiro quarto. No início do quarto período, mais uma bola de 3 de Lucas Dias. Além disso ele passou a ser fundamental na briga pelos rebotes. O momento era do Brasil e a seleção canadense começou a ter muito ansiedade. Já a nossa seleção buscou o seu jogo, cauteloso, sem correria, muito disciplinado e selecionando bem os arremessos. Empatamos com lances livres do Yago, 57 a 57.

Nesse lance livre também ganhamos com a ejeção de Dwight Powell, que cometeu sua quinta falta. Mas se tinha um jeito de deixar mais nervoso o final do jogo foi a sequência de bizarrices da arbitragem. Perdemos um ataque logo após não ter uma falta marcada em Georginho. Felizmente o Canadá ainda seguia apressado e desperdiçando chances frente a nossa defesa que se tornou gigante! Então, foi aí que começou o show de horrores até entrarmos no momento mais extasiante dessa manhã.

Arbitragem vergonhosa

Luguentz Dort fez falta em Bruno Caboclo, muito semelhante ao acontecido com Olynyk no primeiro tempo. A arbitragem afirmou que teve uma falta antidesportiva por conta da mão de Bruno ir direto na cabeça de Olynyk. No lance com Dort foi a mesma coisa, mas a arbitragem marcou uma falta normal. Sem critério algum dos juízes, poderíamos pensar que ali a seleção perderia a cabeça. Mas não, coisa pior ainda aconteceria. No ataque seguinte o Canadá sofreu para conseguir arremessos.

Foram duas bolas perdidas bem embaixo da cesta e que em nenhum momento bateram no aro. Gui Santos tenta pegar o rebote, não consegue, a bola raspa em sua cabeça e sai de quadra com muito menos de 0.4s. No entanto o shot clock retorna para 24 e após revisar a arbitragem diz que tinha posse de bola de Gui Santos. Fundo bola para o Canadá com 14 segundos no shot clock. O técnico brasileiro fica insano no banco, tenta argumentar, mas a decisão segue. No lance seguinte, Lucas Dias dá um tocaço em Luguentz Dort e a arbitragem marca falta.

Com 5 faltas o ala brasileiro sai de quadra. Dort erra um dos lances livres, empata o jogo em 60 a 60 e depois disso o que vemos é a consagração de uma seleção que teve muitos defeitos até aqui na competição, mas que soube ser disciplinada e teve o seu melhor jogo até aqui. Yago colocou a bola embaixo do braço e puxou o ataque brasileiro. Dois pontos do nosso “gigante” armador, na sequência arremesso errado de Shai, rebote Canadense, mas a defesa do Brasil fecha e o Canadá comete violação dos 24 segundos de ataque.

“On any given sunday”

Yago responde no ataque com mais 2 pontos, o Brasil abre 4 de vantagem e depois vemos mais uma vez o ímpeto da nossa defesa. Final de jogo sofrido, onde eu farei uma correção da fala de Galvão Bueno: “esse jogo não foi pra cardíaco”. Bruno Caboclo foi o destaque brasileiro, com 19 pontos e 13 rebotes. Mas precisamos muito exaltar outros jogadores. Gui Santos com mais tempo de jogo tem mostrado uma agressividade importante parao Brasil nos dois lados da bola. Lucas Dias incendiou o time no momento que parecia tudo perdido.

Por fim, Yago, que para esse que escreve é o melhor talento que essa seleção tem em muitos anos, foi um mestre em dar a cadência que o time precisava e mostrou ter muito brilho quando foi necessário que ele colocasse o Brasil na frente. Uma vitória incrível e inesperada. Daquelas vitórias que num futuro eu contarei para os mais novos com muito orgulho. É o tipo de vitória que vem para nos dizer: muitas vezes a torcida sem racionalidade nos proporciona excelentes momentos. Sejamos felizes até o próximo domingo!

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