O baseball no melhor lugar da América (Pt 2)

Tempo de leitura: 8 minutos

Confira a primeira parte clicando aqui.

É hoje meus amigos tailgaters, é hoje! 20:00, horário de Brasília, a bolinha vai voar no duelo entre Gerrit Cole e Max Scherzer. O duelo de abertura da MLB será entre Yankees e Nationals e na sequência já teremos muita rivalidade com Giants e Dodgers, no duelo de Johnny Cueto e Clayton Kershaw.

Preparados? Eu estou, inclusive já juntei todos os ingredientes do “engordando a quarentena” que sairá logo mais, antes que os jogos comecem. Enfim, sem mais delongas, vamos para o prometido, as tradições dos ballparks, ou então, como aquele senhor me disse: “o melhor lugar para se estar na América”.

O primeiro voo da beisebola

Pra abrir a coluna, nada mais justo do que falar da tradição que abre o jogo de baseball. Aliás, essa é uma das tradições mais antigas de todas; o cerimonial first pitch, ou no nosso português, o arremesso cerimonial. Essa tradição é bem antiga e nada mais é do que um convidado de honra arremessando a bolinha para o catcher do time da casa, antes do início do jogo.

Além de celebridades, o arremesso cerimonial também pode ser feito por uma pessoa que ganhou a oportunidade do primeiro arremesso como prêmio do concurso. Algo bem interessante, é que nos primórdios, o convidado lançava a bolinha das arquibancadas. Mas no Opening Day de 1984, o então presidente Ronald Reagan apareceu repentinamente em campo e fez o cerimonial first pitch.

Inclusive, essa tradição de ter um prefeito, governador ou outra celebridade local jogando “cerimônias” cerimoniais remonta a pelo menos 1890. O governador de Ohio (e futuro presidente dos EUA) William McKinley, por exemplo, arremessou a bola antes de um jogo de abertura entre Toledo e Columbus em 1892.

Já a tradição de ter o presidente dos Estados Unidos arremessando no Opening Day, começou com William Howard Taft em 1910 no Griffith Stadium, em Washington DC, casa do então Washington Senators. Desde então, todo presidente, de Taft a Obama, participou de ao menos um arremesso cerimonial, fosse em Opening Day ou qualquer outro jogo. Até que o atual presidente, Donald Trump, quebrou a sequência, mesmo dizendo que era um grande jogador de baseball e até se gabando pra cima do presidente anterior.

The Star Spangled Banner

Outra tradição, que assim como o cerimonial first pitch, ocorre antes do quebra canela começar, é o hino nacional americano. Hoje em dia, pode parecer banal comentar sobre isso, pois antes de qualquer jogo, de qualquer liga, estamos acostumados a ver isso.

Entretanto, foi no baseball que essa tradição começou. O registro mais antigo de execução de um hino, é datado de 15 de Maio de 1862. Mas, naquela época, contratar uma banda para tocar o hino nacional tinha um custo muito elevado, então a execução ficava restrita a ocasiões especiais.

Então, ao final da segunda guerra mundial, os sistemas de som começaram a ficar mais acessíveis, empresas começam a adquirir e os ballparks passam a ficar equipados. Com isso, músicas começam a ser tocadas durante os innings e viraram um padrão. Consequentemente, a execução do hino nacional passa a ser frequente antes dos jogos começarem.

Músicas

Bom, aproveitando esse assunto dos sistemas de som, vamos falar de algumas músicas que são presença carimbada nos ballparks. Algumas músicas que são padrão e outras mais específicas de algum time. Por exemplo, em algum momento pela TV, já deve ter visto aquele ator, Bill Murray, pegando o microfone no Wrigley Field e cantando, “Take me out to the ball game”.

Pois é, assim que a parte alta da sétima entrada é finita, é a hora do torcedor dar aquela esticada e seguir em busca de um último petisco ou mais uma bebida qualquer (cerveja, por favor). Aliás, essa “esticada”, é outra tradição que veio lá de 1910, com o mesmo presidente, William Taft. 

Durante um dos jogos da temporada de 1910, o então presidente, levantou e fez umas “ginastiquinhas”. Todos os torcedores que estavam no ballpark acabaram por acompanhá-lo e isso virou tradição. Entretanto, antes de qualquer esticada, os torcedores levantam-se para cantar a tal da “Take me out to the ball game”.

Essa música é como um hino dos ballparks, e é absurdamente divertido o momento que todos ficam de pé para cantar. O principal detalhe, é que o trecho da música que diz “home team”, é sempre trocado pelo nome ou o apelido do time da casa. É, parece meio óbvio, mas não custa falar.

O mais engraçado dessa tradição, é que os compositores dessa música nunca foram a um ballpark até terem escrito essa canção. Entretanto como uma “paródia” eles conseguiram resumir um jogo de baseball em algumas estrofes. Enfim, música cantada, petiscos comprados, tanque abastecido de cerveja; todos voltam ao seus assentos e voltamos para o jogo.

Diamond e Sinatra

Além do “hino dos ballparks”, temos mais dois hinos, mas de ballparks específicos. Claro, como baseball também é muita rivalidade, essas músicas tinham de ser de Red Sox e Yankees. Lá em Boston, desde 2002, a música “Sweet Caroline”, é tocada toda vez que chegamos no meio da oitava entrada. Ou então, só para ter um gostinho, durante um tour pelo Fenway Park.

A composição de Neil Diamond é de 1969 e foi uma das mais tocadas na Billboard, dando ao cantor o disco de platina, com mais de um milhão de cópias vendidas. No entanto, como pode-se perceber, a música não entrou na playlist do ballpark ou virou tradição por conta do sucesso. 

Quando a franquia foi comprada o novo proprietário pediu que fosse inserida uma música fixa no meio da oitava entrada. Foi então que Amy Tobey, “DJ” do ballpark e fã da música, a escolheu. Não precisou muito para virar a queridinha da torcida e ainda gerar momentos emocionantes. 

Já no arquirrival (Yankees), a escolha pela canção parece muito mais fácil e é tão linda quanto. Frank Sinatra e seu “Theme From New York, New York” é figurinha carimbada em todo final de jogos lá no Yankee Stadium. Uma curiosidade é que originalmente, a música era reproduzida em sua versão original apenas em vitórias. Quando vinham derrotas, a versão cantada por Liza Minelli era a reproduzida.

Entretanto, com o passar dos anos, preferiram deixar apenas a versão de Frank Sinatra. É fato que a música é tocada em todos os eventos esportivos em New York, porém foi com os Yankees, que isso virou tradição.

Comes e bebes

Provavelmente você já deve ter visto o filme “Amor em Jogo”, com a Drew Barrymore e o Jimmy Fallon, então deve imaginar o quanto de guloseimas existem dentro de um ballpark. Desde o famoso “dollar hot dog” até o “plebeu amendoim”!

Comer dentro de um ballpark exige muita concentração e foco. Caso você tenha ido ao jogo sem um planejamento prévio, a probabilidade de sair rolando pelas escadas é imensa. As “concessions” como chamam os americanos, são as mais variadas possíveis e no geral lembram aqueles carrinhos de pipoca da saída do teatro.

Logicamente existem algumas “lojas”, onde você pode encontrar até uma massa um pouco mais “requintada”. Entretanto, o bacana é comprar aquele refrigerante de $5 e os famosos hot dogs, explodindo de tantos acompanhamentos. Agora, caso esteja em algum jogo do Texas Rangers, fique atento se não é uma noite do “dollar hot dog”.

Não se sabe ao certo quando essa tradição começou, mas ela é muito praticada. Nesse dia os hot dogs custam $1 e você pode colocar todos os “recheios” possíveis. Também é normal ver uma “leve” competição de quem come mais. Bom, não deve fazer muito bom, mas garanto que é bem engraçado.

Aproveitando essa conversa “gastronômica”, algo que é comum nos ballparks são aqueles vendedores que ficam andando nas arquibancadas. Facilita muito a vida de quem não quer perder nenhum segundo do evento e também traz aquela famosa cena, que talvez você só veja em filme, em que os torcedores vão passando o dinheiro até chegar ao vendedor.

Lembrancinhas e superstições

Bom, se você está achando que o ballpark só é feito de comida, música e jogo, você está enganado. Tudo bem, minha empolgação nesses pontos pode ter deixado você mais propenso a ver isso. No entanto, ballpark também tem muito bate papo, superstição e alguns prêmios.

Boné invertido para assistir o baseball no melhor lugar da América, o ballpark.
Fonte: True Blue LA

Para citar alguns exemplos, numa tarde qualquer de jogo, você poderá observar alguns torcedores virando o boné. Pois é, parece bem banal, mas é uma das mais antigas superstições de um jogo de baseball. Quando o seu time está atrás do placar e precisa de algum milagre ou simplesmente aquele walk-off providencial, vire o boné. 

Tire da sua cabeça e vista novamente, com o logo do time para dentro. Exatamente isso, o boné ficará ao contrário mesmo. Bom, assim como qualquer “mandinga” geralmente não funciona, pois depende muito daqueles rapazes que estão lá no campo. No entanto, porque não tentar não é mesmo?

O melhor lugar na América

Música, comida, bebida, superstições e muito bate papo são coisas que deixam um ballpark um ambiente muito descontraído. Geralmente, eles também possuem um grande terreno ao redor e realmente acabam parecendo um parque. Dessa forma, o passeio com a família fica muito melhor que uma caminhada no Botânico ou no Ibirapuera. Eu garanto. Ainda sim, se não ficou convencido, talvez o que lhe falte é ganhar um prêmio. 

O baseball no melhor lugar da América, chegando cedo ainda ganha bobblehead.
Fonte: UC Davis

Por que não tenta chegar ao ballpark algumas horas antes e ser um dos 10.000 primeiros? Como tradição, isso pode te render um bobblehead! Isso mesmo, curtir mais o ambiente pode lhe render um prêmio. Albert Pujols, Clayton Kershaw, Madison Bumgarner e figuras mais antigas, todos já foram bonequinhos cabeçudos.

Pois é, aquela frase daquele senhor nunca sai da minha cabeça. Desde 2015 toda a preparação para a temporada do baseball já me deixa agitado. Pelo esporte em si? Também, mas por toda a atmosfera e beleza que uma partida de baseball tem.

Rapaz, saudosismo pesado bateu aqui em Jundiaí, suou os olhos e me levou lá para San Diego. Num mundo pré ou pós pandemia, numa agradável tarde, num ambiente extremamente acolhedor e repleto de emoções. Algo que supera qualquer comida, bebida ou prêmio que possa ter. Hoje é dia de Opening Day, é dia de celebrar o baseball e lembrar daquele senhor e concordar.

Não existe lugar melhor que um ballpark na América toda.

Petco Park - JMI Sports
Fonte: JMI Sports

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