O país do beisebol, a grande história dos Jogos Pan-Americanos

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Decerto, “se você construir, eles virão” é uma das mais emblemáticas frases do beisebol. Apesar de ser uma obra fictícia, o filme Campo dos Sonhos representou, e ainda representa muito do que é o espírito do beisebol. Sonhar e construir uma realidade onde sonhos são possíveis é um desafio diário para quem pratica a modalidade. Acredito que o beisebol tenha uma espécie de lei de Murphy reversa, onde tudo acontece no melhor momento possível para acontecer.

De todas as histórias dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, a odisseia da seleção brasileira de beisebol foi certamente a mais marcante. Uma jornada de 23 jogadores, em um esporte sem apelo popular, que aos poucos ganhou espaço nas transmissões, rodas de discussões, e, principalmente, no coração do país – por uma semana pudemos falar que o Brasil foi o país do beisebol.

O grupo da morte não fez medo

Sendo a modalidade que abriu os Jogos Pan-Americanos, o beisebol ainda contou com a vantagem de ter um dia sendo a única modalidade disputada, além protagonizar a estreia brasileira em Santiago. Com toda a atenção voltada para si, o Brasil tinha a Venezuela como primeira adversária. Por mais que a esmagadora maioria da nossa população não saiba o que significa uma queimada dupla, nos foi ensinado que os venezuelanos sabem como jogar beisebol. Então, vencer a maior potência sul-americana em um dia que todos os olhares estavam voltados para o esporte, é como digo, uma lei de Murphy reversa.

Na segunda partida, foi a vez da Colômbia, Los Cafeteros. O ímpeto caribenho dos colombianos nos fez dar um passo para trás e questionar se a primeira atuação havia sido apenas sorte. Em uma entrada com muito brilhantismo nas rebatidas, uma vantagem larga foi aberta contra o Brasil. Então, mostramos aos navegantes que beisebol tem muita graça SIM! O arrojo brasileiro inflamou os bastões para virar a partida, e, nas entradas extras, sacramentar mais uma vitória.

Nesse ponto, a grande história dos Jogos Pan-Americanos de Santiago já estava ganhando forma. Vencendo duas potências no esporte, a seleção brasileira ainda teria o destemor de vencer Cuba, o grande Golias do beisebol na América Latina. Pela primeira vez na história, o Brasil venceu a seleção cubana de beisebol, algo inimaginável.

Enfrentando o passado

Contrastando 2023, o ano passado ficou um gosto amargo, que nunca deixou de incomodar a garganta. Após uma campanha promissora, o Brasil ficou de fora do World Baseball Classic ao ser derrotado pelo Panamá. Nos Jogos Pan-Americanos, a partida contra a seleção panamenha tinha novamente um peso gigantesco. Bastava uma vitória para que a seleção brasileira de beisebol conquistasse sua primeira medalha pan-americana na história.

Logo na primeira entrada, Victor Coutinho mostrou que o país do beisebol também joga com alegria e potência. Um swing perfeito, irrepreensível, foi tudo que nosso primeira base precisou para rebater a bolinha para fora do estádio. Nesse ínterim, Felipe Natel esteve intocado no montinho. Durante toda a partida, nenhuma única rebatida nosso ás cedeu.

Definitivamente, a partida contra o Panamá entrou nos anais da história do esporte brasileiro. O triunfo garantiu a tão sonhada medalha e premiou os duros meses de preparação. Frente seu mais recente algoz, o Brasil não só venceu, como dominou a partida em todos os momentos. Em síntese, foi o dia em que 23 jogadores fizeram o país do futebol, se tornar, também, a nação do beisebol.

A prata mais dourada do hemisfério sul

Desse modo, a final do beisebol nos Jogos Pan-Americanos de Santiago foi a epítome do que havia de justiça no esporte. De um lado, o Brasil, a equipe que melhor arremessou no torneio. Por outro lado, a Colômbia, a seleção com o melhor desempenho ofensivo.

Acima de tudo, a narrativa brasileira nos conta uma história de superação – de recompensa ao trabalho duro. Do contrário de sua cor prateada, a medalha é o que podemos imaginar como estopim para dias dourados do beisebol no país. O desempenho não conquistou apenas a mídia e os torcedores, conquistou atletas de outros esportes e o Comitê Olímpico Brasileiro – que vocifera para que nenhum ouvido negue a mensagem “O BEISEBOL É UM CASE DE SUCESSO”.

No Brasil, nós jogamos beisebol!

Tanto quanto o resultado, a volta do esporte para os Jogos Olímpicos de Los Angeles é de suma importância para a profissionalização do esporte no país. Resultados significam investimento, estar de volta ao movimento olímpico significa verba para a modalidade.

Retomando a frase que usei para começar o texto, “se você construir, eles virão”. A seleção brasileira de beisebol pode com orgulho falar que construiu essa medalha. Em cada treinamento, cada reunião, nada foi por mero acaso. 2023 é sem dúvidas um dos grandes anos da história do esporte no Brasil. Acima de tudo, foi o ano para passar um recado: no Brasil, nós jogamos beisebol!


Fotos: Natan Pires

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