15 de abril: Jackie Robinson Day

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A pandemia de Covid tem agido como uma verdadeira censora. Ceifa vidas, interrompe planos, dificulta a caminhada de pessoas, famílias inteiras. O esporte, como ator social, econômico e lúdico não foi menos atingido. Em março de 2020 todas as ligas de esportes americanos haviam sido suspensas. O baseball, “passatempo número um da América”, teve as portas fechadas antes mesmo do início da temporada. Por isso, uma das datas mais marcantes e fundamentais no esporte e para a sociedade americana não pode ser comemorada em toda sua plenitude: o Jackie Robinson Day.

No texto que o tailgate zone publicou em 2020 em comemoração a esse dia falamos que essa celebração aconteceria sem jogos. Não veríamos todas as equipes em campo com todos os seus jogadores usando a camisa número 42, eternizada pelo dono do dia. Mas ainda assim, teríamos nossa atenção chamada para importância da luta antirracista, da imprescindibilidade de que as oportunidades sejam iguais para todos e o quanto, mesmo com toda a luta, o caminho ainda é longo e áspero.

Jackie Robinson's Legacy Celebrated at Dodger Stadium - SI Kids: Sports  News for Kids, Kids Games and More
Jackie Robinson Day.
Fonte: SI Kids

Pouco mais de um mês depois do Jackie Robinson Day de 2020, na cidade de Minneapolis (Minnesota), um homem negro, George Floyd, seria covarde e brutalmente assinado por policiais. Seu grito sufocado “Não consigo respirar” ecoa nos ouvidos e torna ainda mais fundamental lembrar e fortalecer a causa que embala o dia 15 de abril, todos os anos, na MLB: a luta contra o racismo é diária.

Jackie Robinson

Jack Roosevelt Robinson é natural do estado da Georgia, cidade do Cairo. Georgia que teve, há algumas semanas, aprovada uma lei que dificulta o acesso da população negra e pobre do estado ao voto. A mesma Georgia que, além de Jackie, deu ao baseball jogadores como Josh Gibson, Dick Redding e que desses e de tantos outros desfrutou das alegrias e da diversão que proporcionaram, trata de tornar ainda mais pedregoso o caminho para a igualdade. Essa mesma Georgia viu Hank Aaron quebrar o recorde de home runs de Babe Ruth. Georgia, cuja canção Georgia on my mind, eternizada na voz de Ray Charles, tornou-se o hino do estado.

O Sul Profundo dos Estados Unidos ainda assusta sua população negra e indigna aqueles que buscam o fim da praga do racismo. Jackie Robinson foi um desses que lutou. Seja como um jovem multi talentoso em diversos esportes em UCLA; fosse como militar que não se subordinou à ordem de ir para os fundos de um ônibus porque era lá “o lugar dos negros”; ou como jogador das Negro Leagues, pelo Kansas City Monarchs, quando criticava o fato de ter de ficar apartado de seus companheiros brancos de time em restaurantes e hotéis; já na MLB, no encontro com o Philadelphia Phillies, em que ouviu todos os tipos de ofensas raciais vindas do manager da equipe, Bem Chapman, mesmo assim não desistiu; e depois de encerrada sua carreira e por todo seu ativismo na luta pelos direitos civis, Jackie Robinson nunca se calou ou virou as costas para essa causa.

Barreira racial

Há exatos 74 anos, num 15 de abril de 1947, Jackie Robinson fazia sua estreia na MLB. Enfim, a infame barreira racial era finalmente quebrada. Sua chegada naquele lugar que por mais de 70 anos (considerando a fundação da National League – NL –, em 1876) fechara as portas para o talento dos jogadores de baseball afro-americanos também era a vindicação e o reconhecimento daqueles que não puderam fazer o mesmo caminho: Bill Byrd, Dick Redding, Cool Papa Bell, Oscar Charleston, Rube Foster, Bingo DeMoss e tantos outros.

Foi aos 28 anos, diante de mais 26.000 pessoas (14.000 delas negras) no Ebbets Field, contra o Boston Braves, que Jackie Robinson fez sua primeira partida na MLB. Seu time, o Brooklyn Dodgers, venceu por 5-3. Embora Jackie não tenha conseguido rebater nesse jogo, ele chegou em base por walk e anotou uma corrida. Na sua primeira temporada ele foi eleito Rookie of the Year.

A história de Jackie Robinson.
Fonte: YouTube

De seu primeiro jogo em Nova York até o último da World Series de 1956, Jackie Robinson foi seis vezes um All-star; MVP da National League (1949); duas vezes o maior ladrão de bases da NL (1947, 1949); maior rebatedor (1949); e campeão da World Series, em 1955, o único título dos Dodgers jogando no Brooklyn.

Quase sessenta anos depois de seu debute, e pouco mais de 30 depois de sua morte, a MLB criou o Jackie Robinson Day. Mas mais do que isso. Antes, num 15 de abril de 1997, o número 42, usado por Jackie durante sua carreira, foi aposentado em todas as franquias. Pois é, esse é um número eternizado! E usá-lo somente é permitido no Dia de Jackie Robinson. Um dia de reverências.

Vitória

Insultos, violência, injustiça. Jackie Robinson experimentou tudo isso por ser negro. Sua dor era também a de outros milhões nos Estados Unidos e no mundo. Mas foi com talento, sabedoria, luta e inspiração que Jackie colocou a desesperança para trás e fez de sua vitória a vitória de todos.

Seu feito não foi apenas uma mudança no baseball. Mas uma mudança na história dos esportes. Jackie Robinson simplesmente seguiu em frente. Ele continuou como se fosse um home run que nunca para de viajar pelos ares do ballpark. Robinson ajudou a remodelar a mentalidade de um país. Ainda que, como dissemos, a luta seja contínua e dura, ele ampliou a discussão sobre o racismo e o preconceito para muito além dos campos. O home run Jackie Robinson segue voando.

42.
Fonte: YouTube

Sua vida virou tema de filme, o “42”, com Chadwick Boseman. Buddy Johnson gravou a música “Did you see Jackie Robinson hit that ball?”. Arnold Rampersad escreveu “Jackie Robinson: a Biography”, leitura obrigatória para os fãs dos Dodgers e do baseball. O próprio Jackie estrelou um filme em que fazia o papel de si mesmo: “The Jackie Robinson History”.

Jack Robinson foi atleta, ícone pop, personalidade pública, ativista social. Ele é membro do Hall da Fama do Baseball desde 1962. Robinson, que sofria com a diabetes e tinha problemas cardíacos, morreu em 24 de outubro de 1972 de um infarto fulminante. Se nesse dia o homem se despedia do mundo, a lenda se tornava ainda maior.

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